O BARRACO DO FREI SIGRIST É PATRIMONIO HISTÓRICO DO MUNICIPIO DE PIRACICABA
Em 07 de agosto de 2020 os
conselheiros do CODEPAC (Conselho de defesa do Patrimônio Cultural) aprovam o
tombamento do barraco do frei Sigrist, como PATRIMÔNIO HISTÓRICO DO MUNICPIO DE
PIRACICABA/SP. Damos graças a Deus por este tão grandioso evento e agradecemos a
todos os envolvidos. DEO OMNIS GLORIA! (A Deus toda glória!).
Em fevereiro de 1985 chegam os frades capuchinhos, para viverem na favela
do Jardim Glória, “como pobres, para os pobres e com os pobres”. Vieram os
seminaristas Carlos e Toninho, acompanhados pelo guardião frei Francisco Erasmo
Sigrist. São alegremente recebidos por dona Joana, a primeira moradora do
bairro, que vende para eles o barraco em frente de sua casa, que pertenceu ao
seu filho Isaias. Neste barraco é instalada então a “Fraternidade Nossa Senhora
da Glória”, após algumas adaptações mínimas. Esta fraternidade franciscana
existirá neste barraco até o ano 2000. Frei Sigrist permaneceu ali como
guardião por 13 anos, até sua morte em 18 de outubro de 1998. Neste período
planejou e executou uma grande transformação social neste bairro, transformando
a vida dos seus moradores. Construiu em sistema de mutirão com os moradores e
patrocinado por amigos e parentes, mais de 100 casas em alvenaria, a capela,
além de implantar toda a melhoria sanitária. Além de frei Sigrist, frei Carlos
Silva e Toninho, os pioneiros, residiram ali os freis e estudantes, de forma
alternada: Cassio Padovani, frei Pedro Cesar Silvério, Francisco de Assis
Pereira de Campos (frei Tito), frei Antônio Carlos Mendes (frei Tonhão), frei
José Gomes de Souza Junior (frei Portuga), João de Deus, Nicola Gianinnazzi,
frei José Orlando Longarez, Nelo e Nilson Cajuru.
A primeira tentativa de tombamento do barraco do frei Sigrist
aconteceu em 2002 quando o processo foi aberto no Codepac (Conselho de defesa
do Patrimônio Cultural de Piracicaba), a pedido da então vereadora Dra. Márcia
Pacheco, atendendo desejo dos moradores do Jardim Glória. O tombamento não foi
concretizado e o barraco começou a se deteriorar de forma irreversível, pois
era feito de restos de madeira e madeirite. Em 2010, mais uma vez, os moradores
do Jardim Glória buscaram a ajuda da vereadora Dra. Marcia Pacheco que
solicitou e conseguiu que a Emdhap (Empresa Municipal de Desenvolvimento
Habitacional de Piracicaba) fizesse a restauração completa do barraco e
resgatasse móveis, documentos e objetos que compunham aquele imóvel.
Em 2018, um grupo de amigos, autointitulado “Amigos de frei Sigrist”,
organizou uma série de eventos cívicos e religiosos para celebrar o vigésimo
ano da morte de frei Sigrist. A base destes eventos foi o barraco, que passou
por limpeza, remoção de entulhos, ajardinamento, religamento de água e luz,
além de organização e catalogação de documentos e escritos do frei Sigrist, que
milagrosamente permaneceram ali por mais de 20 anos, nas mais péssimas
condições de conservação.
O desejo do tombamento veio à tona novamente, mas naquele momento era
impossível pois o Jardim Glória ainda era considerado uma ocupação irregular e
os imóveis não possuíam documentação. Faltava a regularização fundiária que
felizmente aconteceu no dia 04 de fevereiro de 2020, através da lei 404/2019,
assinada pelo Prefeito Barjas Negri. Assim todos os imóveis receberam escritura
e o barraco do frei Sigrist foi regularizado tornando-se patrimônio do
Município de Piracicaba e apto para ser tombado como patrimônio histórico.
Aos olhos da fé pareceu-nos que frei Sigrist, lá do céu, quis que seu
barraco não fosse tombado ou regularizado antes dos outros imóveis do Jardim
Glória. Todos juntos, regularizados num mutirão, combina mais com o modelo de
vida e fraternidade vivida por frei Sigrist e pelos franciscanos que ocuparam
aquele barraco por mais de quinze anos.
São raríssimos os tombamentos históricos de construções de madeira.
Além do “Barraco do frei Sigrist”, em Piracicaba/SP, outro caso conhecido é a
“Casa de Chico Mendes”, em Xapuri, no Acre. Esta casa foi tombada em 2011 pelo
IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e preserva a
memória do líder seringueiro ali assassinado em 1988.
A madeira, por ser menos
resistente, exigirá da comunidade e da municipalidade um cuidado maior e mais frequente para que mantenha
sua conservação. Atualmente o “Barraco do frei Sigrist” é carinhosamente zelado
pela pedagoga Profa. Débora Razze, em substituição à dona Joana,
impossibilitada pela idade avançada. A conservação estrutural, bem como o
fornecimento de água e luz tem sido garantida pela prefeitura Municipal de
Piracicaba, através da EMDHAP. Num futuro próximo o desafio é criar uma
“Associação dos Amigos do Barraco do frei Sigrist” que coordene a utilização de
forma racional e abrangente deste espaço cultural, histórico e religioso,
envolvendo a comunidade e as forças vivas da cidade de Piracicaba.
(Claudinei Pollesel é membro do Instituto Histórico e Geográfico
de Piracicaba).
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