Padre Vicentão foi pro céu de bicicleta


PADRE VICENTÃO FOI PRO CÉU DE BICICLETA


Claudinei Pollesel



Padre Vicente Tonetto, o Padre Vicentão do Itapuã, o "pai dos pobres", morreu no último dia 09 de setembro em sua cidade natal, San Doná di Piave, na Província de Veneza, Itália.

Era missionário Xaveriano e atuou por muitos anos na Diocese de Piracicaba, nas Paróquias de São Francisco Xavier, no Itapuã; Imaculado Coração de Maria, na Paulicéia e Sagrado Coração de Jesus, em Saltinho.

Estava em viagem de férias, comemorando as bodas de ouro, 50 anos, de sua ordenação sacerdotal. Quiz celebrar esta data tão significativa junto de sua família e amigos italianos, mas logo nos primeiros dias de sua chegada á San Doná, em Veneza, foi vítima de uma grave acidente ciclístico, que culminou com sua morte, após longa e sofrida internação.

Vicente Tonetto nasceu em San Doná di Piave, Veneza, em 28 de outubro de 1927, era filho de Luigi e Maria Biason. Teve 12 irmãos, sendo uma de suas irmãs também religiosa.

Sua vocação sacerdotal e missionária surgiu após a visita de um tio que era padre xaveriano na China. Nesta época Vicente estava com 18 anos e passou a ser aconselhado e acompanhado pelo pároco de sua comunidade, em Calvecchia.

Após dois anos ingressou no seminário de Vicenza . Foi ordenado padre em 16 de outubro de 1960, em Parma, na Casa Mãe dos Missionários Xaverianos.

Dois anos após sua ordenação, em 1962, foi destinado ao Brasil. Aceitou com alegria esta missão e integrou-se de tal forma que jamais aceitou ser transferido ou retornar definitivamente á Italia, contrariando até mesmo ordens superiores. Aqui permaneceu por quase 50 anos.

Após breve passagem pelo Rio de Janeiro onde aprendeu um pouco de portugues. atuou em muitas cidades do norte do Paraná, entre elas: Laranjeiras do Sul, Ortigueira, Janiópolis, Goioere, Londrina e Curitiba.
Em 1981 foi destinado á Piracicaba, onde foi o construtor, idealizador e primeiro pároco da Paróquia São Francisco Xavier, no Itapuã, lá permanecendo por 17 anos. Naquele época este bairro não tinha nenhuma estrutura ou condições de acolher a nova paróquia e acomodar o pároco e Padre Vicentão começou do nada. Contruiu a igreja e a casa paroquial operando verdadeiros milagres, driblando a falta de verbas e a total carencia de recursos. Tornou-se um verdadeiro Robin Hood, buscando entre os mais ricos e políticos influentes, as condições que o Itapuã precisava.

Além da matriz fundou outras 18 comunidades/capélas. Foi capelão das Monjas Concepcionistas, na Vila Rezende por 15 anos. Estas irmãs de clausura contribuiram muito com as obras sociais do Pe. Vicente. Madre Maria Celina, atravéz de sua rede de benfeitores, socorria as necessidades urgentes de seu capelão e confessor.

Em 2007 foi pároco, por alguns meses, em Saltinho. Nesta cidade, ele e sua bicicleta, companheira de suas inúmeras visitas pastorais. marcaram profundamente a vida dos paroquianos, com seu trabalho humilde e dedicado aos mais pobres. Sua figura esguia, sua barba branca e seu inseparável boné, pilotando uma bicicleta, acompanhado por alguns moleques, ficará na mem´ria dos saltinhenses por muito tempo. Seu trabalho humilde e dedicado aos mais pobres marcou profundamente a cidade tanto que a Camara Municipal de Saltinho outorgou-lhe o título de "Cidadão Saltinhense" em 2008.

Atualmente era vigário na Paulicéia, na Paróquia Imaculado Coração de Maria, onde continuou seus apostolado até á vespera de sua viagem de férias que o levaria á morte.

Em todos os locais em que atuou foi chamado de "pai dos pobres", devido á sua opção clara e inequívoca por esta parcela do povo sofrido. Não media esforços pessoais, sacrificando seu tempo e seus parcos recursos para socorrer quem o procurasse. Fosse para comprar comida, remédio, pagar a luz ou a água, ou tábuas para fazer um barraco na favéla. Não questionava, atendia e pronto. Se o pobre tivesse frio dava a própria blusa.

Quando não tinha o valor recorria á amigos e benfeitores que o socorriam. Nunca teve pudor em pedir, até por que nunca pediu nada para si . Foi vítima de aproveitadores em muitas ocasiões que percebiam sua inocencia e total falta de malícia e tiravam proveito disso.

Não era fã de automóveis, mas apaixonado por motos e nem sempre tomava os cuidados necessários ou mesmo utilizava capacete. Preferia seu velho "boné".

Acidentou-se várias vezes, sofrendo várias escoriações e quebraduras.Em 2000 sofreu um assalto em Londrina e levou um tiro por que não quiz entregar a moto ao ladrão. Em outras ocasiões teve a moto roubada e devolvida , quando o ladrão descobria que a moto era do Padre Vicente. Recebia a moto e um pedido de desculpas. Perdoava e aconselhava o ladrão.

Padre Vicentão era polêmico e nem sempre bem compreendido por seus confrades e amigos. Mas mesmo seus críticos são unanimes em reconhecer seu amor incondicional aos mais pobres e necessitados, sua fé inabalável e sua dedicação á Igreja. Quando falava de Nosse Senhora dava a impressão de falar da própria mãe. Sua devoção mariana contagiava e emocionava.

Um padre humilde, sem grandes pretensões academicas. Suas homílias eram simples, pareciam conselhos de pai ou de um amigo mais velho. Falava de coisas do dia-a-dia, dava exemplos rurais, enfim, pregava de forma que todos compreendiam, apesar de seu sotque italiano forte e de misturar portugues com italiano. Era exigente com as coisas de Deus e tinha fama de "bravo".

Disse certa vez: "Precisamos rezar para que Deus mande novos missionários; a messe é grande, mas os operários são poucos. Sem Deus não se pode fazer nada. A igreja, por sua natureza, é missionária.Passar dos 80 anos na vida missionaria não é facil. Agradeço ao Senhor por me dar forças para continuar. Prefiro conviver com os pobres e me sinto muito bem assim."

Tinha pressa sempre. Era afobado e parecia estar sempre perdendo a hora. Talvez por isso Deus quiz levá-lo ao céu de bicicleta e padre Vicentão foi pedalando ao encontro do Senhor. Pra chegar mais depressa.

Claudinei Pollesel é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

Comentários

Valdir S.C.Jr disse…
Meus parabéns polisel posso te dizer q por ter sido paroquiano de pe.Vicente e amigo dele sinto muyita falta dele,pois era meu diretor espiritual ai de mim se faltasse um fds da missa apanhava delekkk o Campestre pra ele era onde ele estava em casa pra fazer missa o povo amava ele na missa ai se não estivesse a igreja cheia ele ia na casa de um por um de seus fiés confesa-los,ele chegava a até brigar com os padres a vir fazer missa no campestre ele dizia q o campestre era a casa dele adorava ele q eu fosse coroinha dele,na homilia era exigente e bravo o q todo mundo gostava nele.e agora concerteza ele está lah em cima pegando no pé do povo falando:"Gente vamo rezar seus danadons e q vá tdo mundo caça sapo"e foi de bicicleta pra lah msmo e ai de são pedro se não deixa-lo entrar.Valdir S.C.Jr paroquiano da Par.Imac.Cor. de Maria-Paulicéia

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