Mini crônicas – para não esquecer - 13
Mini crônicas – para não esquecer - 13
A sua mãe Anna Citron morreu muito jovem, aos 35 anos. Ficou órfão com apenas 8 anos. Sua referência de mãe passa a ser sua avó materna, Thereza Carnielli Citron, chamada por todos de “Iéia”, imigrante italiana que nunca aprendeu o português. Casada com Umberto Citron, o “tchotcho”, apelido devido o habito muito italiano de chuchar o pão no café com leite. Gostava de visita-la. Morando em Piracicaba vinha com a mãe e a Cila, ainda criança, visitar seus avós, que moravam na Rua Buarque de Macedo, 855, na Vila Nova, em Campinas. Divirtia-se contando que a mão não compreendia uma palavra sequer do linguajar da “nonna”, que dizia assim “... ma non capisce niente!...”. É desta avó e destas visitas que herda a devoção á Nossa Senhora das Graças, que o acompanhará até o ultimo minuto de sua vida. A igreja com esta devoção ficava pertinho da casa destes avós queridos e era por eles frequentada.
Temos tristezas e alegrias que são eternas, que ficam impregnadas no corpo, na alma e nas lembranças. Com o pai foi assim também. Uma tristeza que ficou em sua alma e que toda vez que contava parecia reviver era a de que, morando em Piracicaba, longe de sua família de origem, preparou-se para a esperada viagem á Campinas, onde visitaria a avó tão querida. Embarcaram no trem na estação do Taquaral, que era a mais próxima do Rolador, onde viviam. Era um domingo de 1959. A Cila com apenas cinco anos e o Zé com pouco mais de um ano. Chegando a casa gritou de fora, chamando pela avó. Foi atendido por uma pessoa estranha que disse que ela já tinha morrido. Sentimento de tristeza que ficará para sempre. A morte de sua segunda mãe e o fato de não ter sabido e nem se despedido, por morar longe e sem meios de comunicação. No ano seguinte morre também seu avo Umberto, terminando o ultimo e único laço que existiu com a família de sua mãe. Nunca mais teve acesso ou contatos com os parentes maternos. Umberto e Thereza tinham um sítio em Betel e esta casa em Campinas, que foram vendidos e distribuídos entre os herdeiros. Foi a única e pequena herança que meu pai recebeu. Costumava contar que o valor deu pra comprar uma cama.
Lembrou sempre e com muito carinho desta avó querida. Guardou esta tristeza de sua morte junto de outras e conviveu com elas. Sem maiores dramas e sofrimentos. Ate porque a dureza da vida e a necessidade de lutar pela sobrevivência deixava pouco espaço para sentimentos, sejam eles quais forem. Tanto era assim que nunca meu pai foi visto chorando, se é que chorou algum dia. A vida moldou nele um caráter duro e rígido. Nós aprendemos a amar e respeitar sua figura desta forma. Sem demonstrações de carinho. Nem por isso amamos menos ou fomos menos amados.
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