Mini crônicas - para não esquecer - 19

Mini crônicas – para não esquecer – 19 Ser padrinho de batismo é algo sério. A Igreja nos lembra de que nos tornamos corresponsáveis, junto dos pais, pela vida e pela educação na fé destes afilhados que nos foram confiados. O pai e a mãe tinham varias afilhados e por eles nutria carinho e amor especial. Era costume pedir a benção aos padrinhos igual se pedia aos pais, avós e tios. Perdeu-se muito deste bom habito. De todos estes afilhados lembro que o Dalmo, irmão do Neio, pediu a benção sempre. Habito santo e bonito. Outro detalhe desta relação é que os pais se tornavam compadres e comadres e esta relação era bastante valorizada. O titulo de compadre e comadre era acrescentado ao nome, ou mesmo substituindo o nome. No caso do “vo Delino”, pai de minha mãe, que batizou a Cila meu pai o chamava de “compadrete”, talvez uma forma mais carinhosa ou diferenciada por ser seu sogro. No tempo mais antigo meus pais foram padrinhos do Carlos Andreoli, do Jose Andreoli, do Dalmo Nascimento, da Neusa, que morreu ainda jovem e dos netos, Junior, Ezequiel, João Umberto e Luiz Gustavo. Eram compadres também daqueles que batizaram nós, seus filhos. Adelino Caetano e Sebastiana de Arruda, pais de minha mãe, batizaram a Cila; Rizzi Casagrande e Georgina M. Casagrande, batizaram o Zé; José Galesi e Eudoxia Tomazella Galesi, batizaram a Ana; Antônio Osvaldo Andreoli e Adelina Caetano Andreoli, batizaram o João e Jair (Tito) Gobbo e Elza Penatti Gobbo, me batizaram. Curioso lembrar que todos fomos batizados na Igreja Bom Jesus do Monte, do Bairro Alto, em Piracicaba/SP e pelo mesmo padre, Monsenhor Martinho Salgot, que também fez o casamento dos meus pais. Sobre este assunto de batismo e compadres existia uma crendice antiga, engraçada e popular que dizia que o sétimo filho do mesmo sexo nascido em sequencia seria lobisomem ou bruxa. A solução para estes casos era que o casal gestante batizasse uma criança, assim estaria resolvido o problema. O Tito e a Elza já tinham seis filhas e não queriam correr o risco ter a sétima com chance de ser bruxa. Pediram aos meus pais para me batizar. Foi feito assim e tiveram um menino como sétimo filho. Claro que é só uma crendice, uma tradição popular, mas naqueles tempos se acreditava assim, ou mesmo não acreditando preferiam não correr o risco. Melhor não arriscar.... (rsrsrs). Outra crendice que meus pais acreditavam e que não sou nem doido em duvidar, é que criança que morria sem batismo chorava a noite e seus choros eram ouvidos nas casas onde estas crianças moravam e tinham morrido. Contavam que numa das casas que moraram no Bairro Dois Córregos, ouviam este choro sentido de uma criança e logo deduziram que ela estava no “limbo” e precisava ser batizada para chegar ao céu. O catecismo da Igreja cita este limbo como sendo "um lugar fora dos limites do céu, onde se vive de forma esquecida e sem a visão plena da eternidade e privado da visão beatificada de Deus". Felizmente para este caso também tinha uma solução conhecida. Deveriam batizar esta criança com agua e sal, de forma espiritual, na intenção do pequeno defunto. E assim fizeram. Acabou o choro e a criança foi para junto de Deus. Resgatar estas crendices é uma forma de lembrar que naquele tempo mais antigo, com menos instrução e com menos presença na vida da Igreja, acreditava-se desta forma. Respeitar estas tradições nos torna melhores hoje. Não cabem aqui os termos verdade e mentira, verdadeiro e falso, certo e errado. Podemos repetir como o personagem Chico, do Auto da Compadecida, obra de Ariano Suassuna: “só sei que foi assim”. Fica tudo resolvido e não precisamos nos preocupar.

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