Mini crônicas – para não esquecer - 18 Em 2006 compramos a chácara. São quatro mil metros desmembrados das terras do Carmelindo Lopes, no Bairro do Formigueiro. Dividimos o valor em três compradores: o pai, eu e o João. Ao lado o João Fabiano também tinha comprado uma. Hoje é a casa da família do João Umberto. Não tínhamos noção naquela época do quanto ela seria fonte de benção e alegria para nossa família. Desde o inicio tornou-se o xodó do pai e da mãe que sempre foram pessoas da terra, sabiam e gostavam de plantar, cultivar e colher. Já existia uma pequena casa de madeira, muito bem feita pelo Seu Zé e Dona Maria, os antigos proprietários. O pai sempre repetia que era feita de “angico preto”, madeira dura e nobre. Nesta casinha de madeira iniciamos as reuniões familiares aos domingos, os almoços preparados pela mãe, pela Cila e pela Ana. Muitos pastéis e bolinhos folhados foram fritos no fogãozinho de lenha. Era o ponto de encontro, era o local de ser feliz ao lado do pai e da mãe. Está lá ainda, firme e intacta. Hoje não mais utilizada para cozinhar. Tornou-se nossa capela, que chamei de Capelinha de Nossa Senhora das Graças da Chácara Polezel, em homenagem a devoção de meu pai por esta invocação mariana. Alguns anos depois o pai aposentou, continuou trabalhando na Cerâmica Paineiras ate que parou de trabalhar. Foi a chácara que deu sentido e animo para sua vida a partir deste ponto. Ele e a mãe iam diariamente para lá e tinham este hobby como verdadeiro trabalho e obrigação. Passavam o dia carpindo, plantando, conversando, tomando café e sendo felizes. Construíram uma pequena edícula de alvenaria, com banheiro e cozinha. Esta edícula passou a ser o novo ponto de encontro. O pai gostava de lembrar que foi a última construção que a mãe ajudou ele a fazer. Que foi sua ajudante. A mãe morreu em 2011 e a Ana em 2015. A chácara continuou sendo o local de encontro da nossa família. Nestes dias ele disse: “domingo sem ir à chácara não é a mesma coisa, parece que falta alguma coisa!”. Graças á Cila e a sua família o hábito dos domingos na chácara continuou, mesmo com a família dispersa. Eu morei em São Paulo e Goiás. O João continua em Goiás. O João construiu uma belíssima casa na chácara que se tornou uma grande alegria para meu pai. Acompanhou todos os passos desta construção. Dizíamos que ele era o feitor. Contava todos os detalhes da obra para o João que ligava para ele todas as tardes. Se o João deixasse de ligar um único dia ele já estranhava e ficava preocupado. Ele morreu na certeza de que o João logo viria para morar na chácara. Há alguns anos o João passou por um tratamento de saúde bem pesado e preocupante e o pai nunca soube. Foi o jeito de encontramos de poupar ele de uma tristeza grande. Deu certo. O João ficou ótimo, com recuperação total e o pai não precisou passara por mais este sofrimento. No domingo seguinte a sua morte nos reunimos na capelinha para rezar o terço dos santos juninos e erguemos o mastro como manda a tradição. Ele gostava desta reza e fazia questão que acontecesse todo ano. Inclusive com sanfoneiro, pandeiro, violão e cantoria. Sem o pai, a mãe e a Ana as reuniões ficam mais tristes, mas a vida continua e temos fé na vida eterna, isto nos consola.

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